As flores que murcharão I
Algo úmido e quente me envolve, estou deitada imóvel, não sinto mais nada nem mesmo a dor que sempre existiu em meu peito, essa escuridão que enxergo a frente me conforta, me aquece, me liberta. Cômico perceber que minha vida teve seu termino de mesma forma de seu inicio, a morte de alguem que amo muito. Sim, para vim ao mundo alguém que mesmo antes de convive já amava imensamente, teve que partir para que minha vida pudesse ser iniciada, um preço que paguei e pago ate este ultimo momento.
Nasce numa sexta-feira chuvosa de 1994, dia 06 de Maio. Foi uma alegria meu nascimento, porque minha mãe sentirá muitas complicações durante a gestação e principalmente no parto, mas pra felicidade momentania eu vim ao mundo saudável e sem nenhum problema. Minha mãe porém, sofreu muito durante os nove meses e ficou muito fraca, o parto foi o apicé e no dia 08 de Maio do mesmo ano, ela não resistiu e veio a falecer em pleno dia das mães. Meus parentes dizem que ela morreu minutos depois de me pegar no colo uma primeira vez.
Por isso na escola eu sempre era a garota que nunca fazia presentes pra mãe, que não podia aprender a se maquiar, que era muito reservada, que não comemorava o dia das mães, que não podia ter conversas de mãe pra filha, que não tinha referencia feminina frequentes, que não podia chamar alguem de "mãe". Em casa meu pai, era uma pessoa amarga, soube que ele era apaixonado demais pela minha mãe, que abrirá mão de sua família para fujir com ela, e um ano após estarem juntos nasce.
Meu contato com meu pai, era muito limitado, trocávamos conversas, ou melhor, palavras no máximo frases curtas, colocadas por imãs na porta da geladeira. Se precisasse de algo era la que deixava o recado, assim também quando ele iria chegar tarde, poucas vezes trocávamos palavras, eramos como dois desconhecidos. Eramos como dois estranhos que apenas tinham semelhanças genéticas. Os anos iam se passando e eu me via prisioneira de uma angustia, eu sabia que ele me culpava, mais tinha certeza que não tanto quando eu me culpava pela morte da minha mãe.
Os anos se passaram e a rotina continuava, porém, havia decidido a dois anos atrás que trabalharia pra não ficar dependendo sempre do meu pai, minha tia me deixou trabalhar na sua loja de flores e arranjos naturais. Está lá era uma terapia, as cores das flores, os aromas, eu me sentia liberta de todos os medos. Então minha tia me contava de suas viagens aos festivais de flores, competições do carro mais florido, da flor mais cultivada, eu me maravilhava ouvindo isso. Minha tia Leda era o mais próximo de mãe que eu tinha.
Com 15 anos não queria como a maioria uma festa, desejei uma viajem a Joinville, para o festival anual das flores, que ocorreriam entre 11 e 16 de Novembro, mas só poderia estar lá nos dois últimos dias do evento, já que seria liberada da escola no dia 13. No ano de 2010, minha tia Leda de última hora não poderia ir, o que quase destruiu meu sonho, graças a persuasão dela meu pai permitiu que ficasse na casa de uma conhecida e fornecedora da loja da minha tia.
O festival foi incrível, as flores, as pessoas, tudo era perfeito, assim como a primavera. Minha viagem se estendeu por mais tempo que imaginei, a Senhora Carmem se ofereceu a mim ensinar sobre as flores, eu não pode recursar. No dia seguinte liguei para o escritório do meu pai, o numero de emergência e pedi permissão, ele não fez aversão. Cada dia que se passava eu me encantava mais pelas flores e seus mistérios, eu esquecia completamente o mundo e seus sofrimentos. Já era 21 de Dezembro, uma terça-feira, ensolarada e fresca. O vento era límpido e suave, os campos não paravam de dançar. Parecia mais um balé ensaiado, eu sentada numa rocha perto do cultivo de orquídeas, observava atenciosamente, faltava apenas mais dois dias naquele paraíso. Já entardecerá, quando:
- Você não cansa de olhar essas flores? - surgiu uma voz atrás de mim a falar.
Inclinei minha cabeça para trás em busca da voz, meus olhos se encontraram com dois pontos azuis, cheios de curiosidade. Assustada me coloquei de pé a uma distancia segura, meninos sempre me eram um problema.
- Não! As flores são as coisas mais puras e verdadeiras que existem. - responde num impulso.
- Hummm... Então acho que você é como uma flor. - disse ele me olhando como se fizesse uma análise.
Corada automaticamente, não sabia em que sentido ele me via como uma flor, mais prefere tomar como um elogio.
- Obrigada. - disse meio sem voz.
Em resposta ele sorriu, um sorriso sincero e verdadeiro, gigante como se o mundo coubesse dentro dele. Naquele momento não sabia explicar, mais aquilo fez meu coração bater feito louco. Naquele dia eu não imaginava mais estava prestes a direcionar minha vida para um rumo que não teria volta.
~ ~ ~ Stop... ~ ~ ~